É sempre bom lembrar (Para Neuza e nossos 5 filhos)

Crônica publicada na obra "De Nuvens e de Areia" (edição comemorativa de "A Vista de Meu Ponto" nº 5.000), primeiro livro lançado por JWD. Curitiba, 1976.

José Wanderley Dias

2/26/20252 min read

É sempre bom lembrar

É sempre bom lembrar

que a força pode ser medida, mas a fortaleza não;

que a instrução ajuda, mas a educação constrói;

que há silêncios que falam mais do que mil palavras;

que, para olhos fechados, são iguais as joias e as imitações;

que a saudade comunica com o passado, e a esperança, com o futuro,

mas somente o amor comunica sem limitações de tempo e espaço.

É sempre bom lembrar

que há progressos que somente se alcançam quando voltamos atrás;

que há avanços que somente se conseguem quando retrocedemos;

que há vitórias que unicamente se obtêm quando nos derrotamos;

que as grandes dores são mudas, mas são aquelas que mais nitidamente ouvimos;

que não pode haver maior “sim” do que o “não” ao “não”;

que adiar o bem pode antecipar o mal;

que os dedos, fora da mão, não apertam nem acariciam;

que os cabelos, fora da cabeça, não a cobrem nem a aquecem;

que o menos importante do que o professor faz é ensinar;

que o menos importante do que o aluno faz é aprender.

É sempre bom lembrar

que Roma não se fez num dia, mas começou um dia;

que nem sempre só é aquele que está sozinho,

pois realmente só é aquele que é ninguém entre alguém;

que quem somente olha para as estrelas,

como quem somente olha para a poeira,

não vê as flores;

que quem fixa sua atenção no instrumento não ouve a música.

É sempre bom lembrar

que a vida é para sempre e um dia;

que é tão impossível ver

dentro da treva escura quanto sob a luz que ofusca;

que os sábios não são obrigatoriamente os que mais sabem;

e que os ignorantes nem sempre são aqueles que desconhecem;

que o castigo pode educar e corrigir, mas o perdão recupera;

que não morre quem realmente viveu;

que não desaparece de todo quem realmente “foi” e “existiu”.

É sempre bom lembrar

que “EU” é a primeira pessoa, se começo por mim,

mas é a última se, como devo, começo por “ELES” ou por “ELAS”,

que são a terceira pessoa, mas deveriam ser a primeira!

É sempre bom lembrar

que um segundo de amor que se perca

não se recupera sequer num século de eternidade;

que no inferno não há inverno.

É sempre bom lembrar

que os relógios mascam as horas,

mas o tempo passa em nós

ou nós é que passamos com o tempo.

É sempre bom lembrar

que memória realmente boa é a que esquece o mal,

e força realmente forte é aquela do fraco que ajuda,

e riqueza realmente rica é aquela do pobre que dá,

e consolo realmente consolador é o do triste que conforta,

e crença realmente crença é a daquele que suplanta as dúvidas.

É sempre bom lembrar

que amar é muito mais oferecer do que exigir,

e os sonhos mais intensos exigem que tenhamos os olhos acordados;

que o momento mais intensamente vivido é o último.

É sempre bom lembrar

que, para depois de amanhã, o amanhã é ontem,

e, a rigor, o futuro nunca chega,

pois deixaria de ser futuro quando chegasse.

É sempre bom lembrar

que somos úteis e valiosos

na medida em que estamos gastos pelo nosso uso

por quem de nós precisou,

e não pelo quanto nos guardamos para nós mesmos,

pois quem guarda a semente na mão não colhe.

É sempre bom lembrar

que, quanto mais aprendermos, mais teremos que aprender,

que, quanto mais formos e tivermos, é porque mais recebemos,

e, consequentemente, mais estamos a dever…

É bom saber e lembrar

que a contabilidade da verdadeira vida

não é de números nem de sinais

mas de gestos e de pensamentos…

É sempre bom lembrar

que se não chegaremos a ser mais do que poderíamos,

não temos o direito, também, de parar no de “menos”…

É sempre bom lembrar

que, às vezes, temos de lembrar de esquecer!