Passos (para Neuza)
Crônica publicada na obra "De Nuvens e de Areia" (edição comemorativa de "A Vista de Meu Ponto" nº 5.000), primeiro livro lançado por JWD. Curitiba, 1976.
José Wanderley Dias
2/26/20251 min read
Passos (Para Neuza)
Negar-se a negar-se,
ser não ao não
e sim ao sim;
amar o amor,
odiar o ódio,
esquecer o esquecimento,
olvidar o olvido,
fugir das fugas,
procurar as procuras,
buscar as buscas;
Saber que é morta a Morte,
viver a ressurreição.
Não ver com cegueira,
nem ouvir com surdez,
recusar as recusas,
desprezar os desprezos,
afastar os afastamentos,
não sentir os ressentimentos,
dar ré aos retrocessos,
descrer das descrenças,
duvidar das dúvidas,
crer na fé,
ter sede da sede verdadeira,
fome da fome verdadeira,
rejeitar as rejeições!
Ser surdo ao não-ouvir,
cego ao não-ver,
mudo ao não-dizer.
Ir além do além,
com a humildade de ficar aquém do aquém!
Ser para todo ser,
somar as adições,
subtrair as diminuições,
multiplicar as multiplicações,
fracionar, esfacelar as divisões!
Ser rico para os pobres,
ainda quando mais pobre que os menos ricos;
extrair o bem do mal,
a começar pagando este com aquele;
não só não ser solidão,
nem pensar que a multidão é presença!
Dificultar firmemente os obstáculos,
impossibilitar o impossível
para possibilitar o possível!
Pôr fogo ao fogo
e gelo ao gelo;
se perder, não perder-se,
constituir a parte que falta
à parte que existe
para que nada seja nada
e todo rume ao tudo!
Sentir que nem todo êxito é vitória,
não fracassar ante os fracassos,
nem ser derrotado pelas derrotas!
Ser mais PARA O ALTO do que DO ALTO…
Assim parecerá mais fácil
caminhar pelos caminhos!
